MEC admite que alunos tiveram acesso a 9 questões antes do Enem

O Ministério da Educação disse que o simulado de um colégio em Fortaleza (CE) apresentou nove questões idênticas às do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) duas semanas antes da realização da prova, aplicada neste fim de semana em todo o país.
Quatorze questões foram divulgadas em um perfil do Facebook na noite desta terça-feira (25). Segundo o MEC, uma questão é "similar" e quatro não são parecidas.
A Polícia Federal foi acionada para investigar o caso. Dependendo da investigação, só os 630 estudantes do colégio Christus, que tem várias unidades na capital do Ceará, poderão ter de refazer o Enem em novembro.
O diretor do colégio, Davi Rocha, disse que ficou surpreso com a repercussão do caso. Ele disse que ainda apura o que ocorreu e que o simulado é realizado por uma rede de colaboradores.
O Ministério Público Federal no Ceará informou que pretende pedir o cancelamento da prova. Segundo o procurador Oscar Costa Filho, o MEC (Ministério da Educação) e o Inep (instituto responsável pelo Enem) serão notificados. Caso o pedido não seja aceito, tentará suspender o exame na Justiça.
HISTÓRICO
As provas do Enem registraram problemas nos dois últimos anos. Em 2010, a prova amarela teve questões embaralhadas, o que fez com que alguns estudantes marcassem as respostas no campo errado.
Já na edição do Enem de 2009, exemplares da prova foram roubados. A fraude adiou a realização do exame, que acabou marcado por abstenção recorde e erro no gabarito oficial. Quatro dos cinco envolvidos no vazamento foram condenados pela Justiça Federal.
Neste ano, cerca de 1.100 candidatos foram informados por telefone que o local da prova indicado no cartão de confirmação de inscrição estava errado.
Segundo o Inep, o problema atingiu apenas candidatos do Rio e consistiu na digitação errada do número do prédio. Os cartões indicaram o prédio da reitoria da Unirio, cerca de 200 metros de distância do prédio onde ocorreu a prova.
FELIPE LUCHETE DE SÃO PAULO - UOL

Procuradoria pedirá suspensão do Enem 2011 por suposto vazamento

O Ministério Público Federal no Ceará pedirá o cancelamento do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) após indícios de que estudantes de Fortaleza tiveram acesso a questões antes da prova. A prova foi realizada no último fim de semana.
Segundo o procurador Oscar Costa Filho, um simulado de uma escola da cidade continha 13 questões idênticas às do exame realizado neste fim de semana em todo o país. Ainda segundo ele, o simulado foi impresso antes da realização do Enem.
Os indícios de vazamento das questões começaram a circular em redes sociais na noite desta terça-feira (25). Mais de 5 milhões de candidatos se inscreveram no Enem.
O procurador disse que notificará o MEC (Ministério da Educação) e o Inep (instituto do governo federal responsável pelo Enem). Caso o pedido não seja aceito, tentará suspender o exame na Justiça.
O MEC declarou, via assessoria de imprensa, que acionou na manhã desta quarta-feira a Polícia Federal para investigar o caso.
A prova do Enem é usada para a classificação dos candidatos no Sisu (Sistema de Seleção Unificada), que oferecerá ao menos 87 mil vagas nas universidades federais para o próximo ano.
HISTÓRICO
As provas do Enem registraram problemas nos dois últimos anos. Em 2010, a prova amarela teve questões embaralhadas, o que fez com que alguns estudantes marcassem as respostas no campo errado.
Já na edição do Enem de 2009, exemplares da prova foram roubados. A fraude adiou a realização do exame, que acabou marcado por abstenção recorde e erro no gabarito oficial. Quatro dos cinco envolvidos no vazamento foram condenados pela Justiça Federal.
Neste ano, cerca de 1.100 candidatos foram informados por telefone que o local da prova indicado no cartão de confirmação de inscrição estava errado.
Segundo o Inep, o problema atingiu apenas candidatos do Rio e consistiu na digitação errada do número do prédio onde será feita a prova. Os cartões indicaram o prédio da reitoria da Unirio, cerca de 200 metros de distância do prédio onde ocorreu a prova.
FELIPE LUCHETE DE SÃO PAULO – UOL Educação

Para Nobel de economia, Brasil precisa investir mais na educação dos primeiros anos

O Prêmio Nobel de Economia James Heckman afirmou nesta terça-feira (25) que o Brasil “precisa investir na educação dos primeiros anos e nas regiões mais carentes”. Segundo o professor da universidade de Chicago, investir no início da vida escolar diminui o trabalho de “remediar o ensino mais tarde”. O catedrático fez uma palestra na manhã desta terça (25) em São Paulo.
De acordo com o professor, é mais fácil reverter uma situação que acontece na fase da adolescência e na idade adulta, do que na infância. Por isso, a importância de oferecer uma educação de qualidade logo nos primeiros anos de vida. “Teremos sucesso em intervenções na adolescência também, mas na infância é melhor”, afirmou.
Heckman também falou sobre o papel da motivação para garantir um melhor aprendizado.  “Crianças altamente motivadas aprendem melhor e têm mais conhecimento. A motivação afeta também a velocidade com que irão aprender”, disse o professor.
Para ele, as escolas podem estimular os alunos mostrando a relação do que eles aprendem na sala de aula e a profissão pretendida para o futuro: “Se a criança quer trabalhar na construção civil ou ser engenheiro, tem que perceber que precisa ir bem nas aula de computação na escola, por exemplo”. E a motivação é uma via de mão dupla, pois os professores reagem melhor a uma criança mais motivada, segundo Heckman.
Medidas
"Vivemos em uma época em que os testes se tornaram um padrão para avaliar as escolas e os indivíduos", comentou o Nobel de economia. "Esses testes são utilizados, mas não são tão bem entendidos. O importante também é o que eles deixam de fazer." Segundo o professor, os testes padronizados, como a Prova Brasil e o Enem,  não conseguem captar as competências não-cognitivas. Ou seja, capacidades como a sociabilidade ou coeficiente de neurose em um indivíduo. "Quero dizer que quando falamos em competências, precisamos ir além, a vida é muito rica e precisamos entendê-las", concluiu Heckman.
Se perguntarmos, o que pode prever o sucesso, o traço único, na opinião de Heckman, é a conscientização. "A inteligência exerce um papel importante, mas a conscientização é mais fundamental para o aprendizado", afirma.
Para ele, a escola está muito focada no desempenho acadêmico dos alunos - e esse tipo de conhecimento, sozinho, não garante uma vida feliz. Aliás, Heckman ressaltou a importância da definição de que tipo de sociedade pretendemos alcançar. O que é ser feliz nessa sociedade? Sem essa baliza, na opinião dele, fica difícil determinar os rumos dos nossos sistemas educacionais.
"Se tivermos um foco só no resultado final, vamos perder a finalidade dos testes escolares, que é avaliar todo o processo", afirmou Heckman. "Temos que tomar cuidado com aquilo que medimos." Para o professor, não existe ainda um jeito de mensurar a totalidade do trabalho da escola.
Suellen Smosinski  Em São Paulo UOL Educação

Enem acaba hoje com prova de linguagens, matemática e redação

Os cerca de 5 milhões de alunos que participam hoje do segundo dia de exame do Enem devem ficar atentos às exigências feitas para a redação. Fugir do padrão significa zerar nesse quesito.
O texto dissertativo deve ter entre 7 e 30 linhas. Não abordar o tema proposto leva à anulação dessa prova. Os candidatos devem chegar às 12h ao local de prova, pois os portões serão fechados às 13h.
Neste domingo serão cinco horas e meia para resolver 90 questões de matemática e linguagens, além da redação.
O estudante deve levar documento de identidade original e caneta esferográfica de cor preta. A recomendação do Inep (instituto do MEC que aplica o Enem) é que o estudante chegue às 12h no local da prova, horário em que as portas são abertas.
Se utilizados pelos candidatos, os trechos de textos das questões objetivas não entrarão no cômputo de linhas nem serão considerados na correção da redação. Desenhos também serão descartados e podem levar à anulação da redação.
Nos últimos anos, educadores e estudantes têm criticado o sistema de correção dos textos. Nesta edição, o Inep (instituto que aplica o exame) alterou o processo.
Antes, cada redação era corrigida por dois avaliadores. Uma terceira avaliação só era feita se as notas tivessem mais de 500 pontos de diferença, numa escala de 0 a 1.000. Agora, a correção extra será feita a partir de 300 pontos de discrepância.
Na prova objetiva, o estudante deve manter a opção feita na inscrição em relação à língua estrangeira -se optou por inglês, não poderá mudar para espanhol hoje.
Fonte – Folha.com
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Pretensões políticas de Haddad dependem do sucesso do Enem 2011, dizem especialistas

Além da consolidação do modelo atual do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), o futuro político do ministro Fernando Haddad (PT) também está em jogo neste final de semana. Especialistas ouvidos pelo UOL afirmam que eventuais problemas nesta edição, como os que aconteceram nas últimas duas edições, podem minar as chances de ele se tornar candidato à Prefeitura de São Paulo.
“Algum outro desastre no Enem neste ano seria como se fosse o beijo da morte para o ministro”, afirma David Fleischer, professor do Departamento de Ciência Política da UnB (Universidade de Brasília). “Se ele for candidato, tem que torcer para o Enem dar certo.”
Segundo Milton Lahuerta, da Unesp (Universidade Estadual Paulista), o Enem é o “telhado de vidro” de Haddad em uma eventual campanha. “De jeito nenhum será um tema confortável. O que aconteceu [erros nas provas anteriores] já é suficientemente complexo”, diz.
As edições de 2010 e 2009 foram marcadas por uma série de problemas. No ano passado, as folhas de resposta vieram com cabeçalhos trocados e alguns cadernos de prova vieram com deficiências de impressão. Em 2009, a prova vazou e foi necessário adiar a data de aplicação.
Fortalecimento
Por outro lado, afrima Fleischer, um Enem sem percalços pode facilitar a vida do ministro em uma possível campanha. “Se o Enem for bem sucedido, fortalece a candidatura dele”, diz. De acordo com o pesquisador, isso pode gerar um ciclo de boas notícias e de publicidade positiva.
Lahuerta lembra, no entanto, que, mesmo com tudo dando certo neste ano, o tema deve voltar à baila no período eleitoral. “Eleição, campanha eleitoral, é algo que não passa só sob racionalidade. Essa questão [Enem] poderá ganhar maior ou menor impacto. Mas não é um bom portfólio duas edições desastradas”, afirma.
Consultado, o ministro Fernando Haddad disse, por meio de sua assessoria, que não iria se pronunciar. 
Rafael Targino Em São Paulo -  UOL Educação
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Meio milhão vão fazer Enem em busca do diploma do ensino médio

Número de interessados cresce a cada ano:

Parte dos 5,3 milhões de candidatos que farão as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no final de semana não tem como principal objetivo conseguir uma vaga em universidade pública ou uma bolsa no Programa Universidade para Todos (ProUni). Cerca de 545 mil participantes declararam na ficha de inscrição que estão em busca do certificado de conclusão do ensino médio, que pode ser obtido sem que a etapa tenha sido concluída a partir do desempenho na prova.

Desde 2009, participantes maiores de 18 anos que por algum motivo não tenham concluído a educação básica na idade esperada podem conseguir o diploma de ensino médio por meio do Enem. O número de interessados cresce a cada ano: em 2009, 197 mil candidatos fizeram o Enem com o objetivo de obter a certificação. Em 2010, o número saltou para 539 mil. O documento é expedido pelas secretarias de educação e institutos federais.

O aluno pode pedir o certificado de conclusão por disciplina ou de toda a etapa. Para isso, precisa atingir notas mínimas que são estipuladas pelo Ministério da Educação (MEC). Em 2009, apenas 69 mil atingiram a nota exigida e conseguiram o certificado. Em 2010, 110 mil foram declarados aptos.

A copeira Pâmela Miranda, 28 anos, espera adiantar os estudos por meio do Enem. Ela é aluna do ensino médio no Centro de Estudos Supletivos da Asa Sul (Cesas), que oferece educação de jovens e adultos em Brasília. “A gente economiza tempo assim e o que sobra podemos estudar para passar em um concurso. Esse é o meu objetivo”, conta a estudante. Ela aproveita as aulas para tirar dúvidas com os professores sobre a prova e quando sobra tempo estuda em casa.

Lílian de Jesus dos Santos, 32 anos, usa o sábado e o domingo para estudar para o Enem, já que durante a semana trabalha como doméstica. Grávida de sete meses do seu primeiro filho, ela espera que com o diploma do ensino médio possa tentar uma vaga em um curso técnico na área de nutrição. “Estudar à noite é puxado. Mas quando você tem um objetivo você não desiste”, diz.

Ela está dando atenção especial à preparação para a redação, temida pela maioria dos candidatos. “É prioridade porque vale mais pontos”, explica.

Estelita Nascimento, 42 anos, conta com a ajuda do filho que é estudante de sociologia na Universidade de Brasília (UnB) para se preparar para o Enem. “Estou estudando pelas provas que ele já fez. Foi ele quem fez a minha inscrição e puxa minha orelha para eu estudar”, conta. Depois de concluir o ensino médio, ela quer cursar enfermagem.
As provas do Enem serão aplicadas neste fim de semana em 40 mil locais de prova, às 13h (horário de Brasília). No sábado, as provas serão de ciências humanas e da natureza. Já no domingo, os candidatos responderão a questões de matemática e língua portuguesa, além da redação.

Kassab veta meia-entrada para professores da rede municipal de São Paulo

Kassab veta meia-entrada para professores da rede municipal de São Paulo
O prefeito Gilberto Kassab (PSD) vetou o projeto de lei aprovado na Câmara de Vereadores da cidade de São Paulo que instituía a meia-entrada em eventos culturais para professores da rede municipal. A decisão foi publicada nesta segunda-feira (19) no Diário Oficial.
Kassab alega, na justificativa de veto, que a meia-entrada para a categoria poderia aumentar o preço dos ingressos “normais”, “além de poder desencadear pleitos de sua extensão a outras categorias igualmente merecedoras”. O prefeito alega também que o projeto “legisla sobre assunto inserido no campo do direito econômico, matéria de competência legislativa concorrente da União, Estados e Distrito Federal.” 
O texto, agora, volta para os vereadores, que podem derrubar o veto.
Não é a primeira vez que um projeto sobre a meia-entrada para professores é vetado pela Prefeitura de São Paulo. Por outro lado, os docentes da rede estadual têm este direito.
Fonte - Rafael Targino Em São Paulo UOL

São Paulo lidera consolidação do Enem

Dos 5,3 milhões de inscritos, 901 mil são de São Paulo e 335 mil do Rio
Antes encarado como uma prova que não era bem um vestibular, o Enem se consolidou como uma prova que tem suas dificuldades - mas, principalmente, particularidades. Se em São Paulo, onde ainda não é usado como seleção para as principais universidade estaduais (USP, Unicamp e Unesp), a preocupação já é grande em desvendar a prova, no Rio de Janeiro essa atenção cresceu consideravelmente neste ano.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) aderiu ao exame como forma de seleção, causando estranheza entre estudantes. "Preferia o vestibular tradicional da federal, media mais a qualidade. Acho a prova do Enem muito estranha", diz Wallace Pappacena, de 18 anos, que quer cursar Direito na UFRJ.
O coordenador do cursinho Miguel Couto, do Rio, Antonio Bottino, avalia que a preocupação entre os estudantes cariocas é que agora a concorrência ficou ainda maior. "No Rio, cada prova tinha uma característica, e havia um perfil restrito de candidatos. Agora, com o Enem, a concorrência é com Brasil inteiro."
De acordo com ele, o cursinho reforçou o foco no Enem. Dos 5,3 milhões de inscritos. 335 mil são do Rio. O maior número de inscrições está em São Paulo: 901 mil.
Paulo Saldaña - O Estado de S. Paulo

Mais da metade das vagas de nomeações autorizadas para este ano foram para a área de educação

A convocação de candidatos aprovados em concursos realizados em 2011 mostra que o foco da política do atual governo é mesmo a educação. Segundo dados do Ministério do Planejamento, das 8.759 vagas autorizadas para o Poder Executivo este ano, 4.883 foram destinadas ao Ministério da Educação, mais de 4 mil à frente, em número de nomeações autorizadas, do órgão que aparece na segunda colocação.
Na sequência do ranking, aparece a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que recebeu autorização para nomear 447 candidatos. A terceira posição é ocupada pelo Ministério da Fazenda, que teve 325 autorizações, e a quarta, do Ministério do Planejamento, com 311 vagas destinadas à área de prestação de serviços em diversos órgãos da administração pública, tais como gestor de políticas públicas e analista de políticas públicas. A Fundação Nacional do Índio (Funai) aparece na quinta posição, com permissão para convocar 225 concursados.
Em entrevista à Agência Brasil, a secretária de Gestão do Ministério do Planejamento, Ana Lúcia Amorim, disse que a prioridade em educação continua em 2012. “No próximo ano, a prioridade do governo será a abertura de vagas nas áreas de educação, saúde e Previdência. Os novos postos visam a reforçar o atendimento nas agências do Instituto Nacional do Seguro Social [INSS], reduzir a carência de profissionais nos hospitais e ampliar a atuação das universidades que passam por processo de expansão”, disse.
O ajuste fiscal feito pelo governo federal afetou a contratação de um número maior de concursados em 2011. O corte orçamentário de R$ 50 bilhões promovido em março atingiu diretamente novas convocações. Das 25 mil vagas previstas no Poder Executivo Federal para este ano, apenas 8.759 foram autorizadas. E 1.367 candidatos que prestaram concurso público e foram aprovados dentro do limite de vagas serão nomeados no prazo de validade da seleção, que vai até 2014.
Para o próximo ano, está prevista a criação de 30 mil vagas para ministérios, autarquias e fundações, segundo o projeto da Lei Orçamentária Anual (LOA) enviado ao Congresso Nacional. As vagas para empresas públicas e de economia mista não estão incluídas no Orçamento. No entanto, mesmo com a previsão de novas vagas, a única certeza de convocação é a de 518 candidatos cujo prazo de validade do concurso expira no ano que vem.
Luciene Cruz  Da Agência Brasil Em Brasília

Dos professores, de todos os dias

A complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa escolas
Nei Alberto Pies*
“As verdadeiras questões da educação resultam de que nas escolas há pessoas jovens, que devem ser ajudadas, tanto quanto possível, a serem felizes. E em que a felicidade dessas pessoas, como a de todas as outras, consiste em satisfazerem a ânsia profunda que têm de verdade, de bem e de beleza. Não em terem coisas e conforto”. (Paulo Geraldo)
Nós, professores e professoras de todos dias, mergulhamos no complexo desafio de humanizar crianças, adolescentes, jovens e adultos a partir da construção do conhecimento. Os tempos mudam, mas não mudou o papel da escola. A escola é o grande laboratório onde se geram a socialização e convivência interpessoal, bem como a construção do conhecimento, a partir das idéias e iniciativas inerentes à criatividade humana.
Abençoada seja a nossa missão de educar. Abençoados sejam nossos propósitos, mesmo nem sempre compreendidos pelos alunos, pais e comunidade. Abençoadas sejam nossas famílias que se geram neste contexto que exige ousadia, paciência, preparo e persistência, em resumo, em doação à vida dos outros. Abençoada seja a nossa saúde física e mental, pois não podemos adoecer e nem fraquejar. Abençoados sejam todos aqueles e aquelas que, por nossas mãos, mentes e coração aceitaram e aceitam o desafio de fazer-se gente, a partir dos seus potenciais e da superação de seus limites. Abençoados todos aqueles que acreditam no trabalho do professor.
Nada mais gratificante em nossa profissão do que o reconhecimento de alunos e alunas que, mesmo tardiamente, fazem questão de afirmar que a gente fez diferença em suas vidas. Não há como medir, no cotidiano da vida escolar, quando e como realizamos ações ou atitudes que marcaram positivamente a vida de um de nossos alunos. Afinal, a gente nunca foi e nunca será gênio para adivinhar; sempre seremos visionários para arriscar, mudar e ousar. Nisto, sempre fomos mestres.
O que entristece a nossa vida é que tanto cuidamos da vida, dos sonhos e dos problemas dos outros, mas nem sempre somos bem cuidados. Queríamos, sim, reconhecimento por nosso maior feito: preservar a importância da educação e da escola para o nosso país, para o mundo.
Muitos falam de educação, mas não são professores. Arriscam palpites sobre melhorias na educação, mas não perguntam sobre o que a gente tem a dizer. Não se importam com nossos baixos salários, muito menos com nossas dificuldades de lidar com as múltiplas dimensões e necessidades presentes nos nossos alunos. Nestes últimos quesitos, lutamos solitários. Embora não tenha mudado o papel da escola e da educação, mudaram as exigências para que possamos construir uma boa aprendizagem. Temos observado que nem todo aluno e nem todos os pais vêem a escola como uma forma de inserção na vida social e científica. Que as necessidades dos nossos alunos estão muito além para aquilo que a escola consegue oferecer. Que escolas e professores nem sempre estão em condições de dar conta de tudo o que está “depositado” neles.
O fato é que, a complexidade de nosso mundo é a complexidade da nossa escola; esta complexidade está nos distintos recantos de nosso país. O que muda de uma escola para o outra é o modo de conduzir os processos de aprendizagem e de interação social, mediados pelo conhecimento. A especificidade de cada escola e de cada contexto é que precisam ser sempre avaliados, reconhecidos e apoiados.
O professor, neste contexto, está fragilizado, exposto e pressionado por resultados e expectativas que não dependem somente de sua atuação. Mas professores e professoras resistem bravamente. Sabem que a dureza dos desafios cotidianos supera-se na disposição de lutar por melhores dias na educação, mas também na sua disposição de amar e sentir compaixão. Como escreveu Paulo Freire, “ não é possível refazer este país, democratizá-lo, humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho, inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda”.
Nossos dias se chamam “muito trabalho”. Nosso alento, “esperança de dias melhores”.
*Nei Alberto Pies, professor, graduado em filosofia e com especialização em metodologia de ensino religioso, ativista da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (RS)
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Rede estadual terá regime de dedicação integral

No ensino básico, professores não poderão acumular aulas em outras escolas; em contrapartida, receberão gratificação; modelo começa em 2012
Paulo Saldana, de O Estado de S.Paulo
O governo do Estado de São Paulo vai criar um regime de dedicação integral para professores e diretores da rede de educação básica. Os docentes não poderão acumular aulas em outras escolas e, em contrapartida, receberão gratificação. O novo modelo será iniciado a partir de 2012 em 19 escolas espalhadas pelo Estado - onde haverá ampliação de carga horária, de seis para oito horas diárias, além da criação de disciplinas eletivas.
As iniciativas fazem parte de um programa de ações voltadas à melhoria da educação, que será anunciado hoje pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo secretário da Educação, Herman Voorwald. Serão anunciadas apenas ações referentes ao ensino médio. Em novembro, ocorrerá o anúncio de ações voltadas para o ensino fundamental - que passam por estudos e análises por equipes da secretaria. O foco será na recuperação do aprendizado.
No novo modelo de escola para alunos dos últimos anos da educação básica, além do aumento da carga horária, o plano é que haja integração entre as disciplinas do currículo. A mudança no regime do seus professores também é novidade. Não será uma carreira diferente, mas um regime diferenciado.
“Na mudança no regime de trabalho do professor, ele vai conhecer os alunos, identificar-se com eles e ser uma referência na escola. A ideia é incentivar uma carreira de 40 horas na mesma escola, porque muitos têm hoje jornadas de apenas 16 horas”, explica o diretor executivo da Fundação Lemann, Denis Mizne. A fundação foi uma das 21 organizações da sociedade civil envolvidas em educação que participaram dos debates e grupos de trabalho que antecederam a finalização e anúncio do programa.
O coordenador da ONG Parceiros da Educação, Jair Ribeiro, outra entidade envolvida, ressalta que o programa é ambicioso, mas possível. “A visão do projeto é posicionar o sistema de ensino de São Paulo entre os 25 melhores do mundo e transformar a carreira do professor entre as dez mais desejadas do Estado.”
O programa também prevê ação diferenciada para 1.206 unidades de ensino consideradas vulneráveis. Nesses locais, haverá prioridade na formação continuada de professores e projetos focados na recuperação do aprendizado dos alunos.
De bem. A nova política de educação do governo teve início com o anúncio do aumento salarial gradativo de 42,2% aos professores - em pouco mais de 20 anos, um professor pode alcançar um salário equivalente a R$ 9,3 mil. As medidas, entretanto, envolvem questões importantes para Alckmin: apaziguar os conflitos com os sindicatos da categoria, que tiveram uma relação desgastada com a gestão anterior, de José Serra (PSDB).
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Cresce uso de computador na pré-escola

Apesar de controvertidos, programas são adotados cada vez mais nos EUA; estratégia é utilizada, por exemplo, em classes grandes
New York Times
LOS ANGELES - Lena Barrett, que cursa o pré-primário, sentou diante do laptop, na sala de aula, e clicou numa série de ícones. O apresentador de um programa de desenhos animados apareceu na tela. “É hora de mostrar o que você sabe, encontrando palavras”, disse ele. “Você vai clicar nas palavras que significam a mesma coisa que o narrador disser. Então, clique na palavra que significa ‘maravilhoso’.”
Em uma das escolas que adotam computadores, crianças que estavam atrasadas conseguiram se recuperar
Lena, de 6 anos, clicou em “magnífico”. O apresentador deu outra palavra. Minutos depois, ela hesitou com a palavra “frágil”, até clicar em “delicado”.
O ensino pelo computador nos primeiros níveis da instrução pode ser controvertido e raramente é usado diariamente para substituir as aulas tradicionais. Mas um número crescente de escolas vem adotando tais programas, que, segundo os proponentes, permitem que o aluno avance no seu próprio ritmo e ajudam os professores a administrar salas de aula com grande número de alunos, à medida que os orçamentos para as escolas são cortados nos Estados Unidos.
A escola onde estuda Lena foi inaugurada em 2010 para atender alunos de minorias e famílias de baixa renda no sul de Los Angeles. Os alunos participaram de um experimento - o Programa Conhecimento é Poder (Kipp, na sigla em inglês)-, “um aprendizado misto”, em que aprendem com computadores e professores. Os resultados foram tão promissores que os diretores continuaram utilizado computadores nas aulas do pré-primário neste ano.
Membros do Kipp esperam que o uso do computador se expanda por sua rede de 109 escolas em 20 Estados e no Distrito de Colúmbia. A Rocketship Education, outra rede nacional de escolas, também coloca seus alunos do pré na frente dos computadores e algumas escolas e distritos de Califórnia, Arizona, Virgínia e outras áreas estão fazendo experiências com um ensino baseado em computador.
“As primeiras indicações são de que a experiência pode ser repetida em salas de aula no futuro, à medida que vamos subindo de classes”, disse Richard Barth, diretor executivo da Kipp Foundation. A fundação adota um modelo de ensino que se caracteriza por um aumento nos dias de aula, um ano escolar mais longo e testes padronizados frequentes.
O diretor da Kipp, Mike Kerr, concebeu um sistema de alternância em que os alunos passam meia hora nos laptops, duas vezes por dia. Segundo ele, os computadores permitem que se crie grupos pequenos, crucial para o sucesso da criança. Aquelas que começaram o ano atrasadas em relação aos colegas se formaram no mesmo período que os outros. No fim do ano, mais da metade dos alunos ficaram entre os 25 melhores do país em matemática e leitura.
Com apenas um ano de dados, ainda é preciso ver se os computadores podem melhorar os resultados dos alunos a longo prazo. Além disso, especialistas se mostram cautelosos com a ideia. “Pais, professores e educadores estão certos em se preocupar com o tempo que a criança fica diante do computador, no caso de ele substituir experiências e atividades de aprendizado básicas”, disse Chip Donohue, diretor de ensino à distância no Erikson Institute em Chicago. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Fonte – Estadão Educação
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O Ensino Médio e as expectativas de aprendizagem

Um fato possivelmente desconhecido da maioria dos brasileiros é o de que não existe no Brasil um currículo mínimo em nível nacional. Contamos apenas com “diretrizes curriculares” que, como não poderia deixar de ser, apresentam somente indicativos orientadores da definição dos conteúdos curriculares. Na maioria dos casos, essa definição cabe às escolas e, quando não, ao próprio professor.
São poucos ainda os estados que determinaram seus currículos únicos. A defesa dessa autonomia se baseia na ideia do respeito à diversidade cultural brasileira. Um exemplo das consequências dessa liberdade é o caso de uma estudante de ensino médio, filha de militar, que cursou cada série em um estado da Federação.
Na primeira série, em física, o foco foi magnetismo. Na segunda série, estudou magnetismo e, na terceira, magnetismo. A par de ter tido a oportunidade de desenvolver uma “personalidade magnética”, a aluna não ouviu sequer falar em nenhum outro campo da física.
Na verdade, a par do respeito às diferenças culturais, deveria ser respeitado o direito de todo jovem, independentemente de sua contingência geográfica, cultural, social ou econômica, desenvolver, ao final de seu ensino básico, as habilidades e competências consideradas essenciais para sua inserção no mercado de trabalho ou para a continuação dos estudos. Mas quais seriam essas competências? Essa é uma pergunta que vale um milhão.
Durante décadas, coube aos livros didáticos a definição dos currículos. Com a instituição das avaliações em larga escala, em nível nacional, as matrizes de competência, construídas para os exames de final do ensino médio (Saeb e Enem), tornaram-se as “diretrizes” para as definições curriculares. Ou seja, em vez de o currículo determinar a matriz de avaliação, ela vem definindo o currículo.
A nova proposta de Diretrizes Nacionais Curriculares para o Ensino Médio (DCNEM 2011) é enfática na necessidade urgente da definição de “expectativas mínimas de aprendizagem”, em nível nacional, para o final desse ciclo.
A mudança de nomenclatura, além de ter a possibilidade de escapar das infindáveis discussões sobre currículo mínimo, ainda carrega a vantagem de inverter o foco. Na questão do currículo, o foco é o ensino, enquanto nas expectativas, o foco é a aprendizagem. Isso corrobora um movimento que evoluiu do “direito à Educação” para o “direito de aprender”.
Estabelecido o foco na aprendizagem, voltamos à pergunta básica. Afinal, quais seriam as expectativas mínimas de aprendizagem necessárias ao final do ensino básico?
Mínimas para garantir tanto o caminho do trabalho quanto o da universidade, para todos os jovens brasileiros. A partir desse mínimo seria possível agregar outras competências, em função das características locais ou pessoais do estudante.
O desafio maior é justamente definir o mínimo. A tendência devastadora será partir dos atuais 14 componentes curriculares obrigatórios, e mais seis transversais, cujos especialistas consideram cada detalhe de sua área como absolutamente fundamental.
Se formos por esse caminho, chegaremos, sem dúvida, a um mínimo mega que aumentará o desânimo de nossa juventude, já tão perdida no emaranhado da proposta enciclopédica de nossas escolas.
Se conseguirmos chegar às expectativas essenciais de aprendizagem ao final do ensino médio, teremos dado um passo fantástico no sentido de reorganizar o currículo de todo o ensino básico. Com os parâmetros iniciais (todas as crianças alfabetizadas) e os finais (expectativas básicas ao término do ensino médio), ficaria mais fácil definir expectativas para os pontos críticos em que ocorrem mudanças na estrutura curricular o final da nona e da quinta séries.
O caminho poderia ser “de trás para a frente”. Já que, ao final de seus estudos básicos, um aluno necessitaria aprender no mínimo X, qual seria seu desempenho necessário ao final do fundamental e o que precisaria ter aprendido ao término do primeiro segmento?
A clareza sobre as expectativas, ao final de cada uma dessas etapas, possibilitaria um trabalho de correção de deficiências antes do início de nova fase, de forma a evitar o maléfico acúmulo de lacunas que leva quase sempre ao abandono.
Estabelecidas tais expectativas, teríamos também a possibilidade de restabelecer a lógica do processo, partindo delas para a revisão das matrizes de competência do Saeb e do Enem e, quem sabe, transformando o último num exame universal e obrigatório para o final do ensino básico.
por Wanda Engel* - Superintendente-executiva do Instituto Unibanco.
Publicado originalmente no jonral Correio Braziliense e retirado do site do GIFE – Grupo de Institutos Fundações e Empresas.
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Formação Docente - O professor posto à prova

Principal instrumento de aferição na escola, avaliação escrita ainda é pouco entendida por docentes brasileiros; falta de debate sobre resultados compromete processo de ensino e aprendizagem

Paulo de Camargo

A prova de Geografia começa e logo o aluno de ensino fundamental se depara com a seguinte questão: "o que é depressão?". A resposta vem imediata e constrange o professor: "é aquela doença que minha mãe tem e precisa tomar remédio".  Em outra escola, o docente chega com o maço de provas. Começa a chamar os alunos para receber as notas, com um detalhe: a chamada acontece em ordem decrescente de desempenho, o que instaura uma espécie de terror na sala de aula.
Ambas as situações são reais e estão descritas no estudo Prova: um instrumento avaliativo a serviço da regulação do ensino e da aprendizagem, realizado pela pesquisadora Dirce Aparecida Foletto de Moraes, da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Os casos, que não são isolados, mostram como permanece profundo o abismo entre a teoria e as práticas da avaliação. Além disso, indicam que a prova escrita, principal recurso do qual o professor lança mão para se informar sobre o desempenho dos seus alunos, frequentemente é elaborada sem os pré-requisitos necessários para se configurar como um bom instrumento de avaliação.
O estudo foi publicado na última edição da revista científica Estudos em Avaliação Educacional, da Fundação Carlos Chagas, e joga luzes sobre um tema relativamente pouco estudado na academia e insuficientemente trabalhado nos programas de pedagogia e de formação continuada. Afinal, se é verdade que a avaliação é um componente essencial no processo de ensino e aprendizagem, e se o professor tem na prova seu instrumento mais rotineiro, torna-se urgente aprimorar o uso desse recurso, tanto na compreensão mais ampla do que ele representa, como na própria elaboração do instrumento.
Não que não haja interesse. O matemático Tadeu da Ponte, diretor do instituto de avaliação Primeira Escolha, responsável, entre outros, pelo vestibular do Ibmec, vem realizando palestras em todo o país sobre o tema da prova, sempre para auditórios lotados. "É preciso lembrar que esta não é mesmo uma questão simples, e o professor precisa ser preparado para saber avaliar", diz.
Perspectiva histórica
O primeiro passo é, exatamente, compreender o princípio do que se está fazendo. Afinal, o que é uma prova? Ela é mesmo um bom instrumento? Por que se tornou um sinônimo de avaliação? Segundo o autor Cipriano Luckesi, uma das referências no tema no Brasil, a prova surgiu ainda no século 16, na Europa, como um recurso de coleta de dados sobre o desempenho do educando. "Esse recurso recebeu o nome de ''''prova'''' e permaneceu com essa denominação até hoje. É o mais comum e cotidiano instrumento usado em sala de aula", diz Luckesi. Boa parte de seu sucesso se explica pela eficácia de reunir informações sobre um conjunto grande de alunos. Na Idade Média, não havia necessidade de testes escritos, devido a pouco número de aprendizes. "O mestre convivia diretamente com todos, podia observá-los, conversar, observar diretamente seu desempenho", lembra. Mas veio o tempo em que se tornou necessário o ensino para muitos e a demanda por um recurso eficiente para que o professor pudesse conhecer o desempenho de todos - e assim nasceu a prova.
Para a pesquisadora Dirce de Moraes, há outros fatores que fizeram com que o teste se tornasse um instrumento predominante ao longo dos séculos. Ele documenta e comprova o conhecimento, possibilitando a representação final por um valor numérico, que retrataria a aprendizagem daquele que foi avaliado. Para Dirce, hoje muitos professores simplesmente não conseguem acompanhar a aprendizagem do aluno sem lançar mão da prova. "Os educadores até buscam novos caminhos, mas, por desconhecerem as diferentes ferramentas ou por sentirem-se inseguros, garantem-se na prova como instrumento comprobatório", diz.
Críticas
A prova também se tornou um meio de comunicação entre famílias, crianças e escola. Basta ver que é muito mais frequente um pai perguntar a um filho ''''como foi na prova'''', do que ''''o que você aprendeu''''. Provavelmente, o abandono dos testes escritos causaria um terremoto na confiança que as famílias depositam na escola. Por fim, diz a pesquisadora, até mesmo entre os alunos a prova se tornou um instrumento de status, induzindo uma hierarquia em sala de aula. "A nota da prova leva a distinções entre melhores e piores, entre aqueles que têm potencial e os que seguem para o fracasso", diz. Nesse sentido, práticas docentes como dar a nota em voz alta estimulam essa visão.
Mas essa é apenas uma das críticas direcionadas à avaliação. Uma delas diz respeito aos usos inadequados dos instrumentos, especialmente por seu caráter de controle da classe e de poder do professor sobre o aluno. Outro questionamento é a confusão entre avaliar e fazer prova. "A prova em si não avalia nada, só oferece subsídios para o professor analisar as aprendizagens dos alunos", diz Dirce. "Avaliar é tudo o que acontece antes da nota", reforça Luckesi. Mas, tudo isso não significa que a prova seja um mal em si, alertam os pesquisadores. A questão é que ela precisa ser adequadamente aplicada. A começar do mais óbvio: uma prova escrita é útil quando se restringir às competências lógico-verbais. Ou seja, pode-se fazer uma prova escrita sobre história da arte, mas não sobre as habilidades de um artista. Por isso mesmo, há diversas outras situações na vida escolar que requerem outros instrumentos de avaliação - como produções, portfólios, apresentações e outras formas de levantar informações sobre a aprendizagem.
EncaminhamentosPara Tadeu da Ponte, a elaboração de um bom instrumento de avaliação começa pela intencionalidade. E essa é a primeira dificuldade, pois requer que o professor inverta a lógica com a qual trabalha cotidianamente. "O docente olha para o cronograma, vê o calendário, o tempo de prova e de correção, pensa no que foi trabalhado ao longo de certo período", diz Tadeu. "Mas, para uma boa prova, precisamos pensar de trás para a frente e perguntar o que queremos que o aluno tenha de fato aprendido", sugere.
A partir desse princípio, o educador deve ter presente que a prova é um indicador, uma informação, como um sinal de trânsito, que precisa, portanto, ser interpretada, e não meramente corrigida. "A questão da prova precisa indicar algo; o erro tem de indicar algo", enfatiza o especialista. Portanto, para ele, a primeira providência antes mesmo de escrever as questões é colocar no papel a descrição da prova, quais conteúdos, quais competências se quer avaliar - tecnicamente, trata-se de estabelecer os descritores. Isso vai determinar, em grande medida, a formulação das questões e a estrutura do exame.
O desenvolvimento das questões é um dos pontos que mais atrapalham os professores, não apenas pela falta de clareza de que conteúdos mais relevantes devem ser avaliados, mas pela própria linguagem. "Com frequência, a linguagem utilizada não é clara e precisa, deixando o aluno em dúvida sobre o que o professor realmente quer como resposta", diz Vasco Moretto, autor do livro Prova: um momento privilegiado de estudo, em que analisou mais de 8 mil provas recolhidas em todo o Brasil.
Clareza
Um dos males mais comuns dos testes escritos aplicados nas escolas brasileiras é, segundo Moretto, a falta de parâmetros claros para a correção. Ao utilizar perguntas genéricas como "Comente, dê sua opinião", o professor automaticamente está dando carta branca para todo tipo de resposta. "O comando deve estar muito claro", confirma Tadeu da Ponte. A clareza da questão, a adequação do vocabulário à faixa etária e a objetividade também são atributos de uma boa prova. "Muitas vezes, o professor faz uma questão com quatro ou cinco temas embutidos, porque acha que poderia ser bom perguntar também isso e aquilo. Isso, no entanto, só dificulta a análise posterior", analisa Tadeu.
Terminada a questão, mande-se imprimir? Nada disso. Um protocolo comum nas instituições que elaboram exames deve ser seguido. O primeiro é reler a questão que se escreveu. Parece básico, mas a falta desse procedimento explica a grande quantidade de erros de gabarito ainda encontrados. Aliás, erros de gramática identificados pelos alunos podem até desacreditar o instrumento e desmoralizar o professor diante da turma.
Outro engano comum é o uso de gráficos e ilustrações coloridas. Muitas vezes, os professores fazem provas com belas imagens, mas esquecem que ainda ela será reproduzida - talvez por uma máquina que imprima em branco e preto, com péssima definição e ainda em formato reduzido. Isso faz com que a compreensão das questões pelo aluno seja muito prejudicada. Por fim, para Tadeu, a cada releitura, o professor deve procurar ver se era possível perguntar a mesma coisa com menos palavras. A objetividade é um parâmetro de qualidade e permite melhores resultados no teste. "Muitas vezes dizemos que nossos alunos são prolixos e pouco objetivos, mas as próprias questões induzem a isso", avalia o matemático.
Conteúdos versus habilidades
A partir de 1997, professores passaram a lidar com a preocupação de contextualizar  as questões, especialmente nos grandes vestibulares, incluindo o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Isso tem a ver diretamente com a concepção de aprendizagem significativa, originada especialmente das ideias do psicólogo norte-americano David Ausubel. O conceito remete à necessidade de estabelecer relações entre as aprendizagens prévias e a busca de conexões com a realidade do aluno. Para Vasco Moretto, uma característica típica da boa prova é, justamente, sua capacidade de estimular a aprendizagem significativa, o que requer a contextualização do que está sendo perguntado, por exemplo, por meio de um texto anterior.
Não se trata de um desafio simples, até porque nas escolas há uma clara dissociação entre os "saberes escolares" e a vida real. Mas, ainda que seja difícil desenvolver um teste que traga tais qualidades, é possível tornar a prova interessante, no entender de Tadeu da Ponte. "A contextualização não implica sempre que a questão deve ter a ver com a vida do aluno, mas que ele será provocado a pensar para resolver o problema, talvez de uma forma a que não está habituado", diz. Esse princípio automaticamente inibe a prática da memorização de respostas e procedimentos, o que deve ser, em última instância, preservado, em sua perspectiva.
Ao mesmo tempo, a memorização, que é considerada um método ultrapassado de aprendizagem por muitos educadores, não pode ser esquecida. Em janeiro deste ano, a revista acadêmica norte-americana Science publicou um estudo que apontou que a "decoreba" pode impactar positivamente no desempenho dos estudantes. Realizada pelo psicólogo Jeffrey Karpicke, ligado à Universidade de Purdue, no Estado de Indiana, a pesquisa envolveu 200 jovens universitários. Os alunos estudaram textos científicos de duas formas. A primeira os estimulou a fazer elaborações sobre o conteúdo que aprenderam, com o texto em mãos. A outra simplesmente os afastou do texto, na tentativa de recuperar o máximo de informação por meio da memória.
Os jovens que exercitaram a memória em vez de estudar com o texto à sua frente apresentaram resultado 50% superior em provas aplicadas. Segundo o estudo, a memorização ajudou os alunos a responder questões que exigiam deduções mais complexas e cruzamento de informações. A hipótese de Karpicke para explicar os resultados aponta que o processo de relembrar não envolveria apenas o resgate de informações já arquivadas no cérebro, mas também de reconstrução do que foi armazenado, o que obrigaria o órgão a reorganizar o assunto e priorizar determinados tópicos. "Não podemos nos levar por preconceitos. Há, de fato, conhecimentos que precisam ser memorizados. Por outro lado, devemos procurar oferecer situações-problema que levem o aluno a se apropriar desses conteúdos, tornando-se capaz de pensar de forma diferente, conforme os contextos que se apresentam", opina Tadeu da Ponte.
Formação
O desenvolvimento de bons instrumentos de avaliação vem sendo tratado nas universidades quase sempre do prisma teórico. Contudo, os professores se sentem desamparados e desorientados na escola, como demonstrou a pesquisa empreendida por Dirce Moraes. Visitando escolas e conversando com professores, Dirce percebeu que não havia qualquer orientação em relação à elaboração das provas, à correção e às tomadas de decisão após os resultados. "Cada professor fazia da forma como achava certo", conta. Entre alguns bons exemplos, Dirce encontrou questões simplesmente retiradas de livros, enfatizando somente a memorização, sem preocupação de contextualizar as perguntas.
Na verdade, como demonstra a pesquisadora Bernadete Gatti, da Fundação Carlos Chagas (FCC), em seu livro Professores do Brasil - Impasses e Desafios, no qual analisou currículos de cursos de pedagogia de todo o país, muitas vezes o docente reproduz práticas que encontrou na graduação. Nas faculdades, o método mais comum de avaliação é a prova escrita, como a que posteriormente ele proporá aos seus alunos. O problema é que as consequências desse despreparo remetem diretamente a questões graves da educação brasileira, como o fracasso escolar. "Um trabalho sistemático com a orientação dos professores, a formação continuada e conscientização sobre a responsabilidade de cada um no processo colaboram significativamente com o sucesso do aluno, distanciando-o do fracasso escolar", diz.
Distorções
Um estudo importante nesse sentido foi desenvolvido por Ricardo Madeira, da Faculdade de Economia e Administração (FEA), na USP, há três anos. Comparando as notas do Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) e as atribuídas pelos professores em sala, Madeira encontrou distorções reveladoras. Percebeu, por exemplo, que enquanto no Saresp as notas distribuem-se na forma de um sino, ou seja, mais ou menos igualmente, nas classes tendem a se aglutinar. "O professor tende a dar nomes iguais para alunos diferentes", diz.
A pesquisa mostrou que os testes que constantemente ranqueiam os alunos para baixo podem desmotivar e causar o abandono. "A prova traz uma influência importante sobre a decisão dos alunos", diz. Para ele, o descolamento entre as notas do professor e do Saresp pode indicar simplesmente que os docentes reconhecem que a prova não é um instrumento perfeito, o que reforça a necessidade de se utilizar variados instrumentos de avaliação. Mas há ainda outros aspectos importantes que ligam a cultura do exame escrito aos problemas de aprendizagem. Um dos principais é justamente sobre o que se costuma fazer com os resultados dos testes. Quase sempre, nada.
O pesquisador Luckesi chama a atenção para o fato de que a simples atribuição de valores numéricos não significa que houve um processo de avaliação formativa, ou seja, que produza reflexos sobre a aprendizagem. A prova deveria ser o primeiro passo, e não o final, de um processo como esse. Há muito a ser feito, como identificar e trabalhar com as turmas sobre pontos que se mostraram difíceis, ou como lançar um olhar mais individual para o desenvolvimento de cada aluno. "O feedback possibilita que ele se situe em relação às aprendizagens, tenha condições de entender e não apenas constatar seus erros e acertos. É preciso refletir, propor situações em que o aluno possa compreender o que fez e o que deixou de fazer em relação ao que foi proposto", enfatiza Dirce.
O argumento dos professores - e não desprovido de razão - é o problema do número de estudantes em sala, que inviabiliza um tratamento individualizado. "É possível que não consiga atender a todos, mas se propuser diferentes situações em que os alunos possam trabalhar na superação das dificuldades constatadas, isso vai contribuindo para o avanço. O que não pode acontecer é a prova apenas atestar a competência ou a incompetência do indivíduo com uma nota", alerta a pesquisadora. Tratar a prova como uma reta de chegada é como olhar o termômetro e se satisfazer com o que ele indica, sem procurar as causas da febre. Para Luckesi, a preocupação única com aprovação ou reprovação acaba por afastar o gestor e o professor daquilo que ele efetivamente procura ao propor um teste - ou seja, encontrar dados para as decisões que terá de tomar, decisões que podem influenciar o futuro de milhares de vidas.

Uma boa prova
Veja algumas dicas de como elaborar a avaliação escrita em sala de aula, segundo diferentes autores

1 Ter clareza do objetivo de cada pergunta. É preciso haver intencionalidade.
2 Buscar que sejam adequadas ao nível dos alunos, com questões bem distribuídas, entre fáceis, médias e difíceis.
3 Elaborar as questões com perguntas que sejam relevantes e evitar pegadinhas.  Tem de ter um tema predominante. Evitar os extremos: nem tão geral, nem tão específico, pedindo "a nota de rodapé".
4 Se possível, buscar contextualizar os problemas ou, pelo menos, procurar apresentá-los de forma a provocar o raciocínio e evitar somente respostas memorizadas.
5 Ser rigoroso com a linguagem, evitando perguntas genéricas. O comando, ou seja, o que se quer de cada resposta deve estar muito claro. Evitar o uso de questões com o uso de negativa, que posteriormente prejudicam a análise da prova.
6 Ser coerente com as aulas e as estratégias previamente utilizadas nas aulas.
7 Evitar provas exaustivas, que demandam muito tempo de realização. Isso não contribui para a qualidade do instrumento.
8 Planejar a prova com antecedência, com tempo para reler as questões, refazê-las e depurá-las.
9 A escolha do formato deve estar a serviço do objetivo. Questões de múltipla escolha podem ser tão boas com quatro opções do que de cinco, por exemplo. Para o Ensino Fundamental I, é melhor utilizar três alternativas; para o Ensino Fundamental II, quatro.
10 Atenção aos detalhes: cuidado com a correção gramatical, e com o uso de gráficos com cores e tamanhos que depois podem ser prejudicados na reprodução.

Não gosto do Dia do Professor

Não gosto do Dia do Professor, a ser comemorado no próximo sábado, por um único motivo: é um dia pouco comemorado. Deveria merecer mais, muito mais atenção, do país. Quase passa despercebido.
Não há nenhuma profissão tão importante para uma sociedade que se proponha a ser civilizada. É mais importante do que a medicina, que salva vidas, afinal quem forma o médico é o professor.
Nada deveria ser tão importante para uma nação do que saber atrair seus melhores talentos para ajudar a disseminar e produzir conhecimento. O que exige uma série de ações coordenadas e complexas. Isso significa que, no final, a pessoa tem de ter orgulho de ter essa carreira.
Não é o que ocorre. Estamos longe, muito longe, de recrutar os melhores talentos. Os salários não são atrativos. As condições de trabalho são péssimas, para não dizer vergonhosas.
Justamente por ter essa visão é que, aqui nesse espaço, faço questão de provocar polêmicas, não apenas criticando os governos, mas também, muitas vezes, quem se dispõe a defender os professores, esquecendo-se do mérito.
Há uma série de demandas corporativas que apenas se encaixam nesse ambiente de degradação. Basta lembrar quantas vezes dirigentes sindicais, sem a menor preocupação com o mérito, atacaram e atacam esforços para reduzir o absenteísmo, demitir professores sem condições de trabalhar ou exigir maior desempenho. Sem contar o explícito uso da máquina sindical para fazer política. Isso, para mim, apenas degrada a imagem do professor. Assim como os governos também usam a educação para fazer política eleitoral.
Some-se a isso que, apesar de todos os avanços, as famílias e a opinião pública pouco acompanham a educação pública. Um sinal de ignorância vemos nas pesquisas que indicam a satisfação dos pais com o ensino público.
Uma medida da nossa civilidade poderá ser medida pela atenção e reverência que se tenha no Dia do Professor.
Fonte – Folha.com

Brasil quer educação de país desenvolvido em 2022

Fortaleza - O Brasil quer chegar a 2022 com o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) igual ao de países desenvolvidos, com o analfabetismo erradicado e com oportunidade para todos. Foi o que disse a assessora especial do Ministério da Educação, Linda Goulart. Ela coordena o 1ª Seminário Internacional de Mobilização Social pela Educação, que acontece até amanhã, em Fortaleza, reunindo 500 participantes de todo o País. Entre os palestrantes, estão renomados estudiosos como os colombianos Bernardo Toro e Bernardo Nieto, especialistas em mobilização e reformas educacionais, e Heather Weiss, diretora do Havard Family Research.
De acordo com Linda Goulart, o diálogo pela educação deve ser estendido à sociedade. "É por esse motivo que o MEC está se dedicando a repassar para os agentes que atuam no setor técnicas e experiências de mobilização no sentido de promover a interação entre família, escola e comunidade", explicou.
Segundo ela, o seminário tem como objetivo proporcionar espaço para discussões sobre a importância da participação das famílias na vida escolar dos filhos, bem como de que maneira a colaboração de segmentos organizados da sociedade e os órgãos públicos de áreas correlatas à educação, além das lideranças sociais e religiosas, podem contribuir no processo de melhoria da qualidade da educação.
Hoje, os palestrantes Bernardo Nieto e Márcio Simeone Henriques falaram sobre o tema Comunicação e Mobilização. Nieto definiu e apontou as implicações dos processos de trocas sociais que buscam a mobilização. "A comunicação é fundamental para estabelecermos essas mudanças, porém não pode fazer milagre", comentou. Segundo ele, o "motor fundamental é o impulso criador dos dirigentes". Ele lançou a seguinte pergunta para a plateia, formada por gestores em sua maioria: "Somos impulsionadores ou obstáculos para essas mudanças?".
Já Henriques, professor do Departamento de Comunicação Social da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal de Minas Gerais, perguntou: "Que estratégia de comunicação é necessária para envolver o público em temas relativos à Educação?". Segundo ele, a resposta é dada pelo educador brasileiro Paulo Freire: a da coparticipação.
Agência Estado

Jornada dupla (ou tripla)

As dificuldades dos professores que têm de dar muitas aulas e trabalhar em mais de uma escola

Ligia Sanchez
 
A rotina diária de Helena Cristina Penteado, professora de educação infantil da rede municipal de São Paulo, tem início às 7 horas, na Emei Antonio Bento, no Butantã, zona oeste da capital paulista. Três vezes por semana, ela tem 40 minutos cravados no relógio para almoçar e se deslocar até a Emei Monte Castelo, a quase dois quilômetros dali, onde dá aula até 19h.
Mesmo passando quase 12 horas por dia nos locais de trabalho, Helena ocupa parte de seu tempo livre, em casa, para resolver pendências relacionadas às tarefas escolares. "Não dá tempo para fazer pesquisas, preparar atividades e preencher relatórios na escola, por conta de tudo aquilo que a gente tem de cumprir", conta. Sem contar casos especiais, como o sábado de junho em que a professora teria de trabalhar, nas duas escolas, em razão das festas juninas. "Vou para uma unidade um pouco mais cedo que os demais, cumpro meu horário e parto para a outra. Nisto, vou pegar metade de uma festa e metade da outra".
A situação de Helena, que tem uma jornada diária de trabalho extensa e dividida entre duas escolas, representa, se não a maioria, pelo menos uma parcela significativa dos docentes brasileiros. Dados do Ministério da Educação mostram que, em 2009, 40% dos professores da Educação Básica no país atuavam em mais de um turno, sendo quase 33% em dois e os outros 7%, em três períodos. Segundo as estatísticas, 18% dos docentes lecionavam em duas escolas e 3% em três estabelecimentos.
Confirmando a impressão geral de que professores trabalham muito, pesquisa realizada em 2007 pelo Ibope Inteligência para a Fundação Victor Civita apontou que 51% dos professores dobram a jornada e que 19% deles dão aulas em até três períodos. O estudo também mostrou que os professores gastam, em média, 59 horas por semana em atividades relacionadas ao trabalho. Deste total, praticamente 50% correspondem a horas em sala de aula. E que, diariamente, cerca de 3 horas são gastas para ir de casa à escola ou em deslocamentos entre escolas onde lecionam.

Cálculos desencontrados
Os números do MEC apresentam resultados muito diferentes do estudo. O que se pode considerar é que os dados oficiais não incluem professores de turmas de atividade complementar e que os docentes são contados uma única vez em cada unidade da Federação, porém eles podem efetivamente trabalhar em mais de uma rede. Pode-se considerar que quem dá aulas em duas cidades não entra na conta de duas escolas ou dupla jornada. E não é difícil encontrar pessoas nesta situação na região metropolitana de São Paulo, por exemplo. O professor de geografia Thiago Fernandes Teixeira da Silva é contratado pela rede estadual, com aulas atribuídas em Osasco, cidade vizinha à capital paulista, onde ele também é funcionário da prefeitura. Já a pesquisa do Ibope/Fundação Victor Civita trabalhou com amostragem. Foram 500 professores em todo o Brasil, entrevistados por telefone.
A dificuldade de encontrar dados satisfatórios sobre uma informação tão simples do trabalho dos professores brasileiros é o primeiro indicativo dos problemas que afetam a profissão. Mesmo que 40% da categoria faça dupla jornada, como apontam os dados oficiais, o número é significativo, quando se tem o excesso de trabalho como fator que prejudica a qualidade do ensino e a satisfação pessoal e profissional.

Impacto na qualidade
"Como a educação no Brasil não é de período integral, salvo exceções, os professores acabam tendo dois empregos para complementar a renda. E a gente fica se perguntando em que hora do dia eles planejam, corrigem deveres, preparam aulas", comenta Angela Dannemann, diretora-executiva da Fundação Victor Civita.
Segundo ela, o reconhecimento de que a dedicação dos professores a apenas um período de aulas é melhor para a qualidade do trabalho é um dos motivos para que redes estaduais e municipais estejam tentando eliminar as possibilidades da tripla jornada, que aparece em menor quantidade, mas ainda é praticada. A professora Helena Cristina conta que a rede municipal de São Paulo realizou mudanças nos últimos anos. Os três turnos de aulas foram transformados em dois. Mas os professores continuam tendo três horários possíveis a cumprir, das 7h às 11h, das 11h às 15h e das 15h às 19h, o que impossibilita assumir turmas no primeiro e no segundo turnos em escolas diferentes.
"Os mecanismos adotados para impedir que o professor pule de uma escola para outra não oferecem a compensação financeira para a nova condição", afirma Angela.
Segundo ela, o número excessivo de horas de trabalho acarreta estresse e problemas psicossociais. "Quando o trabalho preenche o dia inteiro, a pessoa pode ter conflitos familiares, cobrança de atenção pelo cônjuge e filhos", afirma a pesquisadora. Na percepção da educadora Helena, é alto o número de professores que acabam tendo problemas de saúde e necessitando de licença médica, por conta das pressões no trabalho.
Ao longo de sua carreira, Helena já sentiu o peso da dupla jornada em diferentes âmbitos da vida pessoal. Precisou deixar a universidade, porque não conseguia conciliar os dois períodos de aula com os estudos, além da família. Ela ingressou na rede em 2003, com diploma de magistério, sempre cumprindo mais de um turno. Mesmo sem a faculdade, conseguiu o nível superior pelo programa de formação proporcionado pela prefeitura, em parceria com a USP, para professores da rede.
O cansaço bateu forte no ano em que trabalhou em um CEU, com três turmas diferentes, por conta do horário diferenciado do estabelecimento. "Era uma classe na faixa dos seis anos de idade das 7h às 11h; outra na média dos cinco anos de idade das 11h às 13h e crianças de quatro anos das 13h às 15h", detalha.  Eram três planejamentos, com três tipos diferentes de atividades. "Não dá para fazer a mesma coisa com as crianças do segundo estágio e com as do primeiro. As menores ainda estavam se adaptando, descobrindo a chegada à escola", conta.

Processo formativo
O planejamento feito de forma consistente e a dedicação a uma única classe são os pontos frágeis no acúmulo de turnos e escolas, como é comum entre os professores brasileiros. "O educador é um profissional de formação, o que significa que ele precisa se atualizar constantemente. É um trabalho que demanda planejamento frequente, avaliação continuada, acompanhamento dos processos, registro, precisa de tempo de aprimoramento. Se ele está o dia inteiro dando aula, não consegue fazer isso", pondera Angela, da Fundação Victor Civita.
Para o educador português António Nóvoa, a prática de dar aulas em mais de uma escola torna impraticável o desenvolvimento de um professor reflexivo e que trabalha em equipe - temas centrais de suas teorias e linhas de investigação. "Defendemos a existência de um projeto pedagógico nas escolas, que funcione como fio condutor de todas as atividades, com envolvimento dos professores, em cooperação. Se eles não estão mais na escola após dar as aulas, porque vão para outra, é impossível concretizar tais objetivos", afirma.
Nóvoa é reitor da Universidade de Lisboa, catedrático da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da instituição e um dos pesquisadores de referência no campo educacional. Em visita ao Brasil, em maio, mostrou-se surpreso durante uma palestra, na qual foi comentado o fato de professores brasileiros praticarem a dupla jornada e até em escolas diferentes. "O Brasil é o único país que conheço onde isso acontece", declarou.
Segundo ele, na Europa não é comum que professores de Educação Básica vivam tal situação. "Em média, eles cumprem cerca de 30 horas semanais, em uma única escola. Há cerca de 30 anos isso acontecia em Portugal, mas desde então, não mais."
Em seu livro mais recente Professores, imagens do futuro presente , de 2009 (ainda não publicado no Brasil), ele afirma que "nada será conseguido se não se alterarem as condições existentes nas escolas e as políticas públicas em relação aos professores. É inútil apelar à reflexão se não houver uma organização das escolas que a facilite". A afirmação, que busca uma formação de professores mais sólida, faz sentido para a situação precária em que a profissão se encontra, na qual o fato de precisar trabalhar em duas escolas é mais um dos sintomas.

Tentativas
A história do professor Thiago Fernandes da Silveira, que trabalha nas redes estadual e municipal de São Paulo, é um exemplo dos desafios que os docentes encontram na dupla jornada. Há três anos na carreira, desde o início ele tem dois empregos, pelo motivo financeiro. "Na rede estadual, o salário da jornada básica de 25 horas seria por volta de R$ 800, o que é  inviável", comenta.
Neste ano, ele cumpre 10 horas-aula no período da manha, três dias por semana, em uma escola estadual em Osasco, das 8h50 às 12h20. À tarde, são 25 horas-aula todos os dias, das 13h30 às 18h30, no CEU Jaguaré, em São Paulo. Primeiro, leciona para turmas de ensino médio e no segundo período tem classes de 6º e 7º anos do ensino fundamental.
Fora as mais de 12 horas fora de casa (contando o tempo de deslocamento, que ele faz por transporte público), ele ainda acaba gastando pelo menos uma hora diária de planejamento e avaliação. "Acabo me preparando para o dia seguinte ou a próxima semana, pelo fato de estar nas duas escolas. O ideal seria fazer um plano para o bimestre, mas isto acaba não acontecendo."  Em semanas de avaliação, Thiago tem uma sobrecarga de trabalho em casa. "Mas não deixo passar muito mais de duas horas, caso contrário perco a vida social", considera.
No ano passado, entretanto, ele dava aula nos três turnos, manhã, tarde e noite. "Era bem pior, quase não via minha esposa", que por sinal também é professora e se divide entre duas escolas.  A carga horária mais extensa comprometia a qualidade do trabalho. "Eu tinha 12 salas, acontecia de chegar ao final do ano e nem conhecer direito alguns alunos."
O fato é que a questão financeira continua sendo a grande barreira para que os professores trabalhem da forma como gostariam. A fixação em um único local traz várias vantagens para o convívio e as práticas docentes. Além de poupar o professor do excesso de aulas, do número elevado de alunos (que não permite uma atenção mais individualizada), e do desgaste natural dos deslocamentos, permite que se invista em um projeto pedagógico coletivo. Sem esse convívio mais aprofundado, fica difícil fazer com que os docentes façam um trabalho articulado e troquem impressões e informações sobre seu desenvolvimento.

Fonte - Revista Educação