Espaços e Materiais - Saber pensar/Saber Fazer

O ensino de Matemática se apóia em três componentes básicas: Conceituação, Manipulação e Aplicação. A primeira compreende o trabalho usualmente feito pelo professor nas “aulas teóricas”, em que as definições são apresentadas, as fórmulas são (possivelmente) deduzidas, e são estabelecidas as relações dos conceitos com outros já conhecidos pelos alunos.

A segunda é usualmente realizada através dos chamados “exercícios de fixação”, em que o aluno tem a oportunidade de aplicar os conceitos e, principalmente, as fórmulas ensinadas, em uma seqüência de situações mais complicadas.

A terceira é responsável por realizar a chamada “contextualização”, e consiste na solução de problemas com enunciados que se referem a situações concretas, com o objetivo de mostrar as interações da Matemática com os diversos domínios do conhecimento. A maior parte dos livros brasileiros utiliza esta estrutura, que se reflete nas aulas dadas pelos professores.

Infelizmente, os resultados obtidos com esta metodologia (conceituação, seguida de exercícios de manipulação, com algumas aplicações) não têm sido satisfatórios, por várias razões. Freqüentemente, o material teórico é apresentado como uma simples lista de fatos e fórmulas, às vezes sem qualquer justificativa, que o aluno memoriza através de exercícios repetitivos. As aplicações, na maior parte das vezes, são diferentes da realidade, ou pelo menos da realidade dos alunos, frustrando o objetivo de mostrar a relevância da Matemática para as aplicações. O resultado é uma Matemática em que os alunos raciocinam muito pouco: o que eles mais fazem é aplicar mecanicamente determinados procedimentos rotineiros.

Os alunos devem aprender Matemática construindo, ativamente, novos conhecimentos, a partir de sua experiência e de conhecimentos anteriores.
Estas diretrizes apontam para a necessidade de uma aprendizagem muito mais ativa de Matemática do que a propiciada por nossa tradição de ensino, em que os assuntos são usualmente ensinados em aulas expositivas, estruturadas de modo que os alunos possam “anotar no caderno” sem nenhum esforço (a não ser o de copiar...). A aprendizagem ativa deve refletir sobre o ensino e para isso, as escolas devem contar com Laboratórios de Matemática, para que os alunos tenham oportunidade de experimentar com as idéias matemáticas, por meio de discussões em grupo.

Implantar uma atividade mais ativa em Matemática exige ações em várias frentes. Algumas destas ações envolvem autoridades e sistemas de ensino; outras dependem das escolas; outras, ainda, estão ao alcance do professor. No primeiro grupo, estão as ações de repensar o currículo e as expectativas da sociedade com relação ao ensino. O currículo praticado atualmente é extremamente longo e influenciado pelas exigências dos vestibulares, o que reforça o ensino baseado em fórmulas. No âmbito das escolas, é necessário criar o espaço para que os alunos trabalhem. O maior problema não é o espaço físico (o usual das salas de aula, com carteiras voltadas para o quadro de giz, está longe de ser ideal), mas aceitar os momentos de “desordem criativa”, resultantes dos processos de discussão. Na verdade, fazer com que todos os atores (escola, professor, alunos, pais) se acostumem com estas situações é um grande desafio.

Há muitas questões que necessitam de reflexão e muitas respostas. Os alunos aprendem? O que eles aprendem? Será que mecanizam procedimentos para se dar bem nas provas? Como incorporam tudo o que é ensinado? Porque, em geral, se esquecem do que aprenderam quando passam para as séries seguintes?

Independentemente de todos os fatores acima, o professor tem sua responsabilidade no processo, que é a de trabalhar melhor o tripé básico do ensino: Conceituação, Manipulação e Aplicação. Sempre que possível, convém subverter a ordem tradicional e começar por um problema, preferencialmente relacionado a uma situação concreta de interesse do aluno (mas é melhor resolver problemas que se situem exclusivamente no domínio da Matemática do que fazer uma “contextualização desastrosa”, completamente distorcida da realidade). Apenas depois de os alunos resolverem o problema, os conceitos necessários devem ser organizados pelo professor. Como os alunos estarão muito mais motivados a aprender do que antes, a etapa de fixação (ou manipulação) pode ser mais breve, permitindo que haja mais tempo para mais aplicações relevantes. Neste processo, as etapas de “fazer” (construir) e de “usar” (aplicar) Matemática se completam mutuamente.

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